sábado, 14 de agosto de 2010

David Luiz: Jóia da Luz já é referência

Estreia pelo Benfica, em Março de 2007, em Paris, foi tudo menos promissora

Num daqueles acasos maravilhosos, David Luiz nasceu numa cidade chamada Diadema, no estado de São Paulo. Não nasceu em Diamante, nem em Pérola, nem em Jóia, nasceu em Diadema, que é praticamente a mesma coisa, pelo significado, e que diz muito sobre as suas qualidades como futebolista, que foram facilmente adivinháveis no primeiro momento em que chegou ao Benfica, com apenas 19 anos.
Bom, no primeiro momento… não. A estreia do ainda adolescente brasileiro em jogos oficiais pelo Benfica não correu nada bem nem à equipa, nem ao próprio David Luiz. Aconteceu a 8 de Março de 2007, em Paris, num jogo a contar para a Taça UEFA contra o PSG. O treinador era Fernando Santos, que, aos 32 minutos de jogo, vendo Luisão lesionar-se, mandou aquecer e entrar em campo o menino, mal acabado de aterrar na Luz vindo do Brasil e ainda sem caracóis. O Benfica ganhava por 1-0 e, já com David Luiz em campo, acabou por perder por 2-1. "Infelizmente, não consegui a estreia que queria", confessou aos jornalistas. Tal como o Benfica acabou por dar a volta a essa eliminatória, afastando o PSG no jogo da segunda-mão, na Luz, também David Luiz soube dar a volta a essa estreia infeliz e, pouco a pouco mas com grande segurança e capacidade para impressionar técnico e adeptos, foi conquistando o seu lugar no eixo da defesa, ao lado de Luisão, até ao ponto de se tornar a figura referencial do Benfica e o símbolo do renascer do emblema para as grandes conquistas e para os consequentes imensos caudais de euforia.
David Luiz fez uma época absolutamente notável em 2009/10 e a chamada à selecção do Brasil só peca por tardia. Se os adeptos portugueses tiveram dificuldade em entender a imprensa brasileira quando chamou "conservador" a Dunga, o ex-seleccionador, basta-lhes lembrarem-se de David Luiz e da sua inexplicável ausência do Mundial da África do Sul.
No entanto, ao contrário dos portugueses, os adeptos brasileiros mal conhecem o jogador. "Fui para Portugal com 19 anos e por isso, no Brasil, não há muita informação sobre mim", explicou recentemente numa entrevista. Mas vai haver. Oh se vai!

PONTOS FORTES
Alma - Ânimo, capacidade de sofrimento, rapidez de execução, são as capacidades que não demorou a apresentar.
Apoio ofensivo - Quando sai com a bola nos pés da sua zona de defesa e avança pelo campo do adversário, é imparável.
Vigor - Tem um jogo físico que mete respeito, não pela rudeza mas pela capacidade técnica que exibe no desarme.


PONTOS FRACOS
Verdura - Até para os predestinados, a posição de ‘central’ reclama uma experiência que a juventude ainda não lhe concede.
Esquerda - A inusitada utilização como defesa-esquerdo tem sido um memorável fiasco que já atingiu Quique Flores e Jesus.
Desconcentração - Garantem os teóricos do Terceiro Anel que sofre em todos os jogos um momento de desconcentração.


TÁCTICA: NÃO SE ESQUEÇAM DE JAVI GARCIA
Um dos mais espampanantes sintomas da felicidade benfiquista no final da época passada era a imparável discussão entre adeptos sobre quem teria sido o jogador mais importante, mais decisivo e mais fiável da campanha triunfal do Benfica em 2009/10. Di María pela arte suprema, Cardozo pelos seus golos , David Luiz pelo ânimo inquebrantável, Saviola pelo carrossel de futebol, enfim, entre todos os jogadores campeões nacionais havia preferidos e eleitos.
Curiosamente, no futebol também se aplica a velha máxima do escritor francês Antoine de Saint--Exupéry, "O essencial é invisível aos olhos", e só assim se explica que o trabalho de campo da fabulosa dupla Ramires/Javi García não tenha sido, de um modo geral, valorizado à medida da importância que teve no culminar em beleza de uma época inesquecível. Hoje, Ramires já partiu e Javi García tem vindo a ver os jogos do Benfica sentado no banco e não no meio do campo, onde ‘via’ melhor do que ninguém e mais depressa do que todos o balanço da sua equipa e o da equipa adversária. Ramires e Javi García formaram um dínamo poderoso de coordenação quer a atacar, quer a defender, e é na sua ausência actual que se prendem algumas indecisões e incongruências deste Benfica que não soube responder ao FC Porto na final da Supertaça.

TREINADOR: JORGE JESUS
No ano passado, exactamente por esta altura, meados de Agosto, Jorge Jesus ainda não tinha ganho nada de oficial com o Benfica mas era já idolatrado pela vasta nação de adeptos encarnados. A empatia entre o treinador, vindo do Sp. Braga, e os milhões de benfiquistas, vindos de mais quatro anos consecutivos longe do título, foi absolutamente fulminante, e ficou a dever-se a uma pré-temporada que impressionou tanto pelos resultados como pela qualidade surpreendente das exibições.
Quando, muitos meses mais tarde, o Benfica ganhou, finalmente, títulos já Jesus tinha firmado o seu nome nacional e internacionalmente como ‘treinador na moda’ e Luís Filipe Vieira teve de renegociar com ele o contrato e a respectiva cláusula de rescisão não viesse o Benfica a ser vítima de uma operação hostil da concorrência mais directa ou menos indirecta. E lá que tentaram, tentaram...
Jesus poderia, facilmente, ter dado o salto para outras paragens se tivesse querido aproveitar a euforia do seu chegado momento. Mas optou por apostar em quem tinha apostado em si. É público que Jesus foi uma escolha pessoal do presidente do Benfica, que já o tinha querido na Luz um ano antes, perdendo em favor do espanhol Flores na argumentação que então ocorreu na SAD benfiquista.
Para o treinador, a temporada de 2010/11 foi-lhe apresentada como sedutora, na convicção de que não só a equipa manteria as suas pérolas, à excepção de Di María – cuja saída foi em público justificada por Jesus –, como até se reforçaria de modo a enfrentar todas as competições com um outro à-vontade.
A saída de Ramires para o Chelsea, depois de Jorge Jesus ter afirmado publicamente que não estava preparado para perder o internacional brasileiro, parece ser causadora de uma dor profunda no gabinete técnico do Benfica. Veremos se a situação não se agrava…

OPINIÃO: REPETIR ERIKSSON
O futebol é campo propício para sonhos desmesurados. Com todo o apreço pelo esforço financeiro desencadeado pela SAD do Benfica, com o propósito de poder lutar pela Liga dos Campeões, convenhamos que o desenho do projecto carece de ‘substância’ em pormenores de importância maior. É verdade que o Benfica, em 2010/11, vai ter uma grande luta pela frente, e se a levar de vencida conseguirá enterrar um fantasma que lhe assombra os sonhos há 26 anos. Em nome do bom senso, o Benfica tem muito a ganhar em concentrar-se de modo absoluto na revalidação do título nacional. Foi com Eriksson, em 1982/83 e 1983/84, que o Benfica conquistou pela última vez dois campeonatos seguidos. E não digam que não era bonito fazê-lo outra vez.

Fonte: Correio da Manhã

2 comentários:

  1. Lembrou-me deste jogo como fosse ontem, não foi uma boa estreia :S mas foi um principio de muitas glórias.

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