Num daqueles acasos maravilhosos, David Luiz nasceu numa cidade chamada Diadema, no estado de São Paulo. Não nasceu em Diamante, nem em Pérola, nem em Jóia, nasceu em Diadema, que é praticamente a mesma coisa, pelo significado, e que diz muito sobre as suas qualidades como futebolista, que foram facilmente adivinháveis no primeiro momento em que chegou ao Benfica, com apenas 19 anos.
Bom, no primeiro momento… não. A estreia do ainda adolescente brasileiro em jogos oficiais pelo Benfica não correu nada bem nem à equipa, nem ao próprio David Luiz. Aconteceu a 8 de Março de 2007, em Paris, num jogo a contar para a Taça UEFA contra o PSG. O treinador era Fernando Santos, que, aos 32 minutos de jogo, vendo Luisão lesionar-se, mandou aquecer e entrar em campo o menino, mal acabado de aterrar na Luz vindo do Brasil e ainda sem caracóis. O Benfica ganhava por 1-0 e, já com David Luiz em campo, acabou por perder por 2-1. "Infelizmente, não consegui a estreia que queria", confessou aos jornalistas. Tal como o Benfica acabou por dar a volta a essa eliminatória, afastando o PSG no jogo da segunda-mão, na Luz, também David Luiz soube dar a volta a essa estreia infeliz e, pouco a pouco mas com grande segurança e capacidade para impressionar técnico e adeptos, foi conquistando o seu lugar no eixo da defesa, ao lado de Luisão, até ao ponto de se tornar a figura referencial do Benfica e o símbolo do renascer do emblema para as grandes conquistas e para os consequentes imensos caudais de euforia.
David Luiz fez uma época absolutamente notável em 2009/10 e a chamada à selecção do Brasil só peca por tardia. Se os adeptos portugueses tiveram dificuldade em entender a imprensa brasileira quando chamou "conservador" a Dunga, o ex-seleccionador, basta-lhes lembrarem-se de David Luiz e da sua inexplicável ausência do Mundial da África do Sul.
No entanto, ao contrário dos portugueses, os adeptos brasileiros mal conhecem o jogador. "Fui para Portugal com 19 anos e por isso, no Brasil, não há muita informação sobre mim", explicou recentemente numa entrevista. Mas vai haver. Oh se vai!
PONTOS FORTES
Alma - Ânimo, capacidade de sofrimento, rapidez de execução, são as capacidades que não demorou a apresentar.
Apoio ofensivo - Quando sai com a bola nos pés da sua zona de defesa e avança pelo campo do adversário, é imparável.
Vigor - Tem um jogo físico que mete respeito, não pela rudeza mas pela capacidade técnica que exibe no desarme.
PONTOS FRACOS
Verdura - Até para os predestinados, a posição de ‘central’ reclama uma experiência que a juventude ainda não lhe concede.
Esquerda - A inusitada utilização como defesa-esquerdo tem sido um memorável fiasco que já atingiu Quique Flores e Jesus.
Desconcentração - Garantem os teóricos do Terceiro Anel que sofre em todos os jogos um momento de desconcentração.
TÁCTICA: NÃO SE ESQUEÇAM DE JAVI GARCIA
Um dos mais espampanantes sintomas da felicidade benfiquista no final da época passada era a imparável discussão entre adeptos sobre quem teria sido o jogador mais importante, mais decisivo e mais fiável da campanha triunfal do Benfica em 2009/10. Di María pela arte suprema, Cardozo pelos seus golos , David Luiz pelo ânimo inquebrantável, Saviola pelo carrossel de futebol, enfim, entre todos os jogadores campeões nacionais havia preferidos e eleitos.
Curiosamente, no futebol também se aplica a velha máxima do escritor francês Antoine de Saint--Exupéry, "O essencial é invisível aos olhos", e só assim se explica que o trabalho de campo da fabulosa dupla Ramires/Javi García não tenha sido, de um modo geral, valorizado à medida da importância que teve no culminar em beleza de uma época inesquecível. Hoje, Ramires já partiu e Javi García tem vindo a ver os jogos do Benfica sentado no banco e não no meio do campo, onde ‘via’ melhor do que ninguém e mais depressa do que todos o balanço da sua equipa e o da equipa adversária. Ramires e Javi García formaram um dínamo poderoso de coordenação quer a atacar, quer a defender, e é na sua ausência actual que se prendem algumas indecisões e incongruências deste Benfica que não soube responder ao FC Porto na final da Supertaça.
TREINADOR: JORGE JESUS
No ano passado, exactamente por esta altura, meados de Agosto, Jorge Jesus ainda não tinha ganho nada de oficial com o Benfica mas era já idolatrado pela vasta nação de adeptos encarnados. A empatia entre o treinador, vindo do Sp. Braga, e os milhões de benfiquistas, vindos de mais quatro anos consecutivos longe do título, foi absolutamente fulminante, e ficou a dever-se a uma pré-temporada que impressionou tanto pelos resultados como pela qualidade surpreendente das exibições.
Quando, muitos meses mais tarde, o Benfica ganhou, finalmente, títulos já Jesus tinha firmado o seu nome nacional e internacionalmente como ‘treinador na moda’ e Luís Filipe Vieira teve de renegociar com ele o contrato e a respectiva cláusula de rescisão não viesse o Benfica a ser vítima de uma operação hostil da concorrência mais directa ou menos indirecta. E lá que tentaram, tentaram...
Jesus poderia, facilmente, ter dado o salto para outras paragens se tivesse querido aproveitar a euforia do seu chegado momento. Mas optou por apostar em quem tinha apostado em si. É público que Jesus foi uma escolha pessoal do presidente do Benfica, que já o tinha querido na Luz um ano antes, perdendo em favor do espanhol Flores na argumentação que então ocorreu na SAD benfiquista.
Para o treinador, a temporada de 2010/11 foi-lhe apresentada como sedutora, na convicção de que não só a equipa manteria as suas pérolas, à excepção de Di María – cuja saída foi em público justificada por Jesus –, como até se reforçaria de modo a enfrentar todas as competições com um outro à-vontade.
A saída de Ramires para o Chelsea, depois de Jorge Jesus ter afirmado publicamente que não estava preparado para perder o internacional brasileiro, parece ser causadora de uma dor profunda no gabinete técnico do Benfica. Veremos se a situação não se agrava…
OPINIÃO: REPETIR ERIKSSON
O futebol é campo propício para sonhos desmesurados. Com todo o apreço pelo esforço financeiro desencadeado pela SAD do Benfica, com o propósito de poder lutar pela Liga dos Campeões, convenhamos que o desenho do projecto carece de ‘substância’ em pormenores de importância maior. É verdade que o Benfica, em 2010/11, vai ter uma grande luta pela frente, e se a levar de vencida conseguirá enterrar um fantasma que lhe assombra os sonhos há 26 anos. Em nome do bom senso, o Benfica tem muito a ganhar em concentrar-se de modo absoluto na revalidação do título nacional. Foi com Eriksson, em 1982/83 e 1983/84, que o Benfica conquistou pela última vez dois campeonatos seguidos. E não digam que não era bonito fazê-lo outra vez.
Fonte: Correio da Manhã
Lembrou-me deste jogo como fosse ontem, não foi uma boa estreia :S mas foi um principio de muitas glórias.
ResponderEliminarDlsempre* <3
ResponderEliminarN.