segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

David Luiz, o novo referencial da seleção


O zagueiro David Luiz estreou na seleção brasileira em agosto de 2010, no amistoso contra os Estados Unidos, no estádio do New York Giants, em Nova Jersey em que a seleção venceu por 2 a 0. Era também a primeira partida da seleção depois da desclassificação para a Holanda na Copa da África do Sul. Faziam sua primeira partida com a camisa nacional ainda Paulo Henrique Ganso e Neymar – dupla-reveleção que Dunga deixou fora da lista da Copa. Bem mais discreto que Neymar, apesar de chamar a atenção pelos longos cabelos enrolados, David Luiz ocupa a posição em que reinou por muitos anos Lúcio, dono de garra e vontade de vencer sempre estampados no rosto nem sempre muito simpático. Vontade David Luiz, 24 anos, nascido em Diadema (SP), herdou de Lúcio: nos treinamentos no belo estádio do Giants ele era um dos que mais corria, chutava, marcava e não dava moleza aos companheiros de ataque. Treino é para ser sério, ele não tem dúvida.
Dez partidas depois de vestir a camisa da seleção, David Luiz aparece como um dos jogadores com maior chance de estar garantido desde já para a Copa de 2014. Fala mansa, jeito simpático, objetivo nas suas ponderações, o zagueiro do Chelsea se adaptou rapidamente a Londres – para onde se mudou em meados de 2011, deixando o Benfica, de Portugal. Afinal até o fuso horário é o mesmo dos dois países, enquanto no resto da Europa Ocidental os relógios sempre estão uma hora à frente.

Apesar da agitação cultural e de ser um porto movimentado em todas as áreas e atividades, David Luiz curte com calma o que a cidade tem à disposição. Foi a musicais, visitou pontos turísticos, assistiu shows como do Coldplay, e costuma se aventurar em culinárias diferentes pelos infinitos restaurantes de Londres. Gosta de ficar em casa e fazer contato com a família pela internet. Mas se tem algo a que se rendeu, além do jeito de viver dos londrinos, foi ao estilo britânico dos automóveis: em vez de ter bólidos esportivos coloridos, circula pela cidade a bordo de um pequenino Mini Cooper S de quase 180 cavalos de potência (era fabricado desde os anos 1950 pela British Motor Corporation, hoje é da BMW mas mantém o DNA inglês), além de ter na garagem um Bentley Continental I(absurdamente confortável e com cerca de 500 cavalos de potência, hoje marca do Grupo VW).

A seguir, David Luiz conta um pouco sobre sua carreira e como é viver na Inglaterra

Onde você começou?
No Vitória (ES). As coisas foram acontecendo da melhor maneira, depois de 1 ano na terceira divisão tive oportunidade de ir para o Benfica. Sonhava com isso, mas não imaginava que sairia da terceira divisão direto para a Europa, saltei muitas etapas. Cheguei ao Benfica sabendo que teria de adaptar meu estilo de jogo a um futebol mais rápido, mais tático.

Como foi sua estréia no Benfica?
Foi em Paris, na Liga da UEFA, contra o Paris Saint-Germain. Aos 30 minutos do primeiro tempo o Luisão se machucou o técnico me colocou no lugar dele. Estávamos vencendo por 1 a 0, mas na primeira bola eu falhei em um cruzamento e eles empataram. No meu segundo lance, um jogador do PSG conseguiu driblar os zagueiros e marcar o segundo. Fazia cinco minutos que eu estava em campo. No vestiário, alguns me olhavam com pena, outros com ódio, e eu pensei em voltar ao Brasil no outro dia. O treinador perguntou se eu queria sair, mas fiquei em campo. E fui um dos melhores em campo no segundo tempo, quase fiz gol.

Você começou jogando como zagueiro?
No Vitória jogava no meio-campo ou volante. Num campeonato de juniores fiquei no banco como volante e no primeiro jogo dois zagueiros se machucaram e eu entrei na posição. O treinador profissional me viu jogando e me chamou para treinar. Estreei duas semanas depois.

Como foi chegar à seleção?
É um sonho que consegui realizar. Representar sua pátria é motivo de orgulho e muito gratificante. Posso ganhar campeonatos com vários times, mas jogar pela seleção é o maior título da minha vida.

Quem é seu ídolo?
Meu pai, em todos os sentidos. Esportivamente sempre gostei muito do Kaká, e também pelas suas atitudes fora de campo. Faço aniversário no mesmo dia que ele.

Como foi a adaptação em Portugal?
Fácil. Fui para um lugar que tem um dos melhores climas da Europa, que fala português, tem muito brasileiro e tinha o arroz e feijão, que não pode faltar. Se a transferência fosse do Vitória para o Chelsea, teria sido mais complicado.

E de Portugal para a Inglaterra?
Já estava quatro anos na Europa, eu já era europeu. O pior foi o idioma, não falava nada de inglês, e o frio, mais intenso que em Portugal.

E a mudança de futebol?
Em Portugal foi um grande choque. Cheguei muito lento, sem dinâmica. O jogo é muito mais rápido, com um ou dois toques na bola. Tive aulas para aprender os esquemas táticos dos treinadores, parecia uma escola de português e matemática. Na Inglaterra, outros elementos foram difíceis: lá os jogadores são mais fortes. A preparação física é a principal característica da Premier League.

Você já enfrentou o Messi?
Sim, em um amistoso com a seleção– perdemos por 1 a 0 (em novembro de 2010 no Catar). O Messi é o melhor jogador do mundo, tem outra dinâmica de jogo. Quando pega na bola você não sabe o que é perna, canela ou bola. Marcamos bem o Messi durante todo o jogo, mas numa jogada aos 91 minutos ele conseguiu fazer o gol. Meu conselho para quem quiser marcar o Messi é que descanse bastante, porque vai ter muito trabalho. Você pode estudá-lo, mas ele sempre vai fazer algo diferente. O importante é se preparar bem e marcar a equipe para que a bola não chegue ao Messi.


Qual a razão do cabelo comprido?
Quando era mais novo, sempre raspava. Em Portugal deixei crescer por causa do frio, para tampar as orelhas. Aqui em Londres são vendidas até perucas “com meu cabelo”. Jogador de futebol tem de saber que é um espelho para inúmeros jovens. O exemplo não é só dentro de campo, na vida pessoa todos prestam atenção também. Se você tem cabelo grande, as pessoas vão querer o cabelo grande, isso acontece.

Você é amigo do Lucas Piazon?
Ele é uma pessoa sensacional. Enquanto os pais não se mudaram para Londres, ele ficava na minha casa, eu sentia que ele precisava de um apoio. Agora já vem treinando mais tempo com a gente, vai ser um excelente jogador.

O que você pensa da Copa no Brasil?
Vai ser uma grande oportunidade para mostrar que o Brasil não é um país de segundo ou terceiro mundo, mas de primeiro mundo. E quem sabe fechar com chave de ouro com um título.

Fonte: Veja

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