segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Careca? David Luiz revela tratamento e fala das cicatrizes do Mundial


David Luiz chegou ao Paris Saint-Germain tem três meses. De lá para cá, ainda não conseguiu encontrar um porto seguro na capital francesa, diz que está difícil. Mora em um belo hotel próximo ao Arco do Triunfo. Mas se ainda não encontrou residência fixa, já sente-se em casa pelo carinho que recebe de centenas de franceses. Em uma rápida caminhada até um dos monumentos mais imponentes de Paris, o jogador era parado a todo instante para uma foto ou um autógrafo. Até militares armados que cuidavam da segurança do local acenaram para o jogador da seleção brasileira com um sorriso no rosto.

- Sempre quis ser jogador de futebol e brincava de dar autógrafo com a minha irmã. Fazia um “D” e um “L” e gostava daquilo. Paris é mais calma do que Londres, mais pacata. Só não gostei que eu ainda não achei a minha casa. Já conhecia a cidade, é o sonho de todo brasileiro – contou o defensor, relembrando que a cidade foi a primeira que quis conhecer quando chegou ao Benfica e o local onde fez o seu primeiro jogo ao desembarcar no clube português, em 2007.
Mas não é a falta de um endereço que preocupa o zagueiro nesse início de sua passagem pelo PSG. Além de manter as boas atuações, um problema que vai muito além das quatro linhas e afeta milhões de pessoas no mundo tira o sono de David Luiz: a calvície. É isso mesmo. Em entrevista ao GloboEsporte.com e ao Esporte Espetacular, o zagueiro admitiu que os cabelos estão ficando mais ralos. E justamente para evitar que sua marca registrada fique pelo caminho, o jogador já encontrou uma solução com o médico tricologista Luciano Barsanti. 
- Vamos falar de coisa boa (risos). Perdi um pouco (dos cabelos), mas já encontrei o segredo e a fonte da salvação, graças a Deus. Não vou ficar careca, não – afirmou o zagueiro, vaidoso e sempre mexendo nos cabelos a cada pausa na entrevista realizada em um luxuoso quarto do hotel onde está hospedado. 


Antes da entrevista, que aconteceu dois dias após a vitória da seleção brasileira sobre por 2 a 1 sobre a Áustria, David Luiz acordou cedo justamente para iniciar o tratamento com o médico. Todo cuidado é pouco. Durante a conversa, é claro que o zagueiro não fugiu do tema Copa do Mundo. Da derrota por 7 a 1 para a Alemanha, pelas semifinais da Copa do Mundo, e do bom desempenho individual ao tornar-se o único zagueiro brasileiro na história a marcar duas vezes no torneio.

- Trocava tudo (os gols) pelo título. Sem o título, não valeu de nada. Eu não tenho como sorrir sozinho porque fiz dois gols na Copa. Trocava tudo para ver o sorriso no rosto de todo mundo.

Em relação ao “apagão” da Seleção na goleada sofrida para os alemães, que viriam a conquistar a Copa, David Luiz classificou a atuação na derrota como um “blecaute”

- Ninguém estava esperando que o jogo fosse acontecer daquela maneira. Tomar quatro gols em poucos minutos, vendo que você está fora da final. Não estávamos preparados para o golpe tão forte como foi. Estava acontecendo tudo certo para a Alemanha. E eu pensei: “vamos começar do zero. Vamos fechar”. Mas não conseguimos ter aquela consciência naquele momento. Você prepara um sonho, uma atmosfera, vê um país unido, feliz... E, em seguida, ver um estádio em silêncio. Você olha para o lado e vê tudo acabado, pensa que é sonho e quer acordar do pesadelo. Eu era o capitão naquela tarde e deveria ter tido um melhor entendimento de jogo para tomar alguma atitude.


As horas após a goleada, David admite, não foram fáceis. Passou longas horas no chuveiro, demorou a dormir... Tudo para entender o que havia ocorrido naquela tarde no Mineirão, em Belo Horizonte.
- Lembro que fui pro meu quarto e comecei a refletir para entender o que tinha acontecido. Por que naquele dia? Por que Deus havia me colocado como capitão naquela partida? Queria entender o propósito. Tentava encontrar caminhos, explicações, e não encontrava. Você olhava um corredor em silêncio. Era um local que imperava a alegria, a energia positiva. Mas eu gosto de encarar as coisas e ver soluções. Não se entregar para o problema. Eu pensava: “Quem quiser ser forte para superar tudo isso vai buscar esse caminho. Quem optar por se esconder vai tentar se resguardar”. Agora é assumir tudo. Fiquei muito triste pelo meu país, pelo meu povo. Gosto desse contato. É o meu oxigênio. O fato de lembrar que o meu país estava chorando e eu estava chorando junto. O país só estava chorando junto porque estávamos unidos. Conseguimos trazer essa paixão de volta. Essa paixão de estar junto, do patriotismo, todos torcendo juntos, indo para o jogo, de ver na TV, juntar na casa de um ou de outro, no barzinho. Servia de conforto e deu para ver que não perdemos tudo

Mas a noite de tristeza foi suficiente para David Luiz saber que precisava pensar no futuro. Buscar alternativas para ter uma nova chance na seleção brasileira.

- Tudo passa pela sua cabeça e ainda mais depois de um baque. Você pensa em tudo. Pensa que acabou. Era a Copa no Brasil. Como vamos sair na rua? Como vamos encarar de novo esse desafio? Como vamos esperar daqui a quatro anos? Quando você para e reflete, você vê tudo que construiu na vida. Esse sonho que você pensou não pode ser destruído com um único golpe. Você só aplica para a sua vida aquilo que você quer. Quis e escolhi traçar o meu objetivo de um cara positivo, de absorver as coisas boas e agradecer por tudo o que eu vivi. Agora é brigar por uma nova oportunidade. O futebol é lindo por isso.

Durante a entrevista, David Luiz falou do relacionamento com o técnico Dunga, do desempenho da renovada seleção brasileira e até das declarações de Thiago Silva, que durante a concentração com a equipe nacional afirmou estar chateado por ter perdido a braçadeira de capitão e a titularidade da equipe nacional.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

GLOBOESPORTE.COM: Quantas vezes você assistiu à entrevista após o jogo da Alemanha em que você está chorando pela derrota?

David Luiz: Vi uma vez. Sabia o que eu estava sentindo, o que eu sinto hoje. Sei o que eu tenho no meu coração. Não tinha como pensar ali no que falar. De certo modo tentar fugir daquilo que você sentia e do que você tinha no coração. O meu sentimento foi expressado ali e sei exatamente o que eu falei, o que eu senti e o que eu estava sentindo naquele momento.
E o carinho do torcedor ? Por essas e outras, quando eu fecho os olhos, penso em agradecer pelo fato de ter conquistado esse respeito da minha gente, por ter feito a minha história no país. Isso é muito valioso para mim, receber esse carinho, ter uma afinidade com o público. Não só como jogador, mas como pessoa, o homem, conhecer o meu caráter, a forma como eu penso a vida, a forma como eu sou. Por essas e outras que eu vejo esse ano como um ano de vitórias. Aconteceu muita coisa boa para a minha vida. O que eu espero é manter isso tudo para o futuro. O legado que você deixa como ser humano é definitivo.


GE: Quando o Dunga falou em sua primeira entrevista ao “Fantástico”, logo que assumiu a Seleção, que o jogador precisava jogar em campo e pensar menos na parte externa, você viu aquilo como um recado?

Tudo o que o treinador fala é válido para você. Ele é o chefe, é ele que vai mandar, ele que tem as regras, ele que vai definir a forma que vai trabalhar. Quem seguir aquelas regras vai ter êxito. Foi com o Felipão, com o Mano e, agora, com o Dunga. Sempre quis ouvir o que os experientes tinham a dizer. São mais experientes do que eu, sabem mais do que eu e vão me ensinar muita coisa. O Dunga nunca disse que era para mim que ele falou aquilo. Concordei com ele. O Dunga é o treinador da Seleção e vai precisar montar o time. Se forem coisas que não prejudiquem o trabalho de ajudar com o futebol, elas são bem-vindas. Se começa a atrapalhar e não funcionar, você precisa trabalhar junto. Foi muito bom, de certo modo, esse aviso para todos. Gosto de ouvir sempre. Você tem dois ouvidos e uma boca e se você estiver disposto a ouvir, você vai ouvir. Agora eu o conheço, sei a forma que ele trabalha e estou muito feliz.


GE: E a ida para o Paris Saint-Germain?

Estou muito feliz aqui. Fiz a escolha certa para a minha carreira. País bacana, cidade fenomenal. Dei sorte até nisso. Morei em Lisboa, Londres e agora aqui. O campeonato é diferente da Premier League. A intensidade lá é maior. Logo depois da Copa eu fui acolhido da melhor maneira. Muitos me ajudaram. Uns preferiram tocar no assunto (derrota na Copa), outros não. Estou totalmente adaptado, mas sem casa ainda. Já vi inúmeras casas, mas não senti ainda que um dos locais que eu vi será a minha casa nos próximos anos.


GE: Como viu as declarações do Thiago Silva na Seleção?

O Thiago Silva é um dos grandes jogadores, uma grande pessoa. Voltou para a Seleção após estar machucado. É um grande zagueiro, assim como o Miranda, o Gil, o Marquinhos e muitos outros zagueiros que atuam no Brasil. É novo ciclo, com um novo treinador e se quiser jogar vai ter que batalhar dentro de campo para mostrar que tem chance de estar jogando. Todos sabem que terão que lutar.


GE: Você já foi capitão. Como viu o gesto do Neymar ao entregar a braçadeira para o Thiago Silva no fim da partida diante da Áustria?

A faixa é só mais um adereço. Tem que ter a sua forma de liderar, independentemente do que você faz. Foi um gesto bonito ainda mais pelo que estava acontecendo, pela turbulência. Gestos bonitos são sempre bem-vindos na seleção brasileira.


GE: E o gesto de carinho com James Rodríguez após a vitória sobre a Colômbia, pelas quartas de final da Copa? A imagem percorreu o mundo...

Aquilo foi o que eu senti naquele momento. Não que eu seja um veterano, mas sabia que o que ele estava sentindo pelo fato de nascer em uma geração de ouro da Colômbia, que tinha um time muito forte, assim como foi na época do Rincón, do Valderrama, do Asprilla. O sonho dele, dentro da cabeça dele, sendo artilheiro da Copa, tinha acabado. Aconteceu tudo isso pela admiração que eu tinha por ele e pelo que ele vinha fazendo na Copa. Naquela competição, ele ganhou muito mais do que perdeu.


GE: Como o Brasil conseguiu recuperar-se tão rápido após a Copa? Já são seis vitórias em seis jogos e apenas um gol sofrido.

Tivemos o entendimento do que aconteceu. Mostramos que aquilo é passado. Todos já sentiram a dor que tinham que sentir. Não há espaço para lágrimas e tristeza. Temos que olhar para o horizonte e pensar que podemos chegar até ele. Todos que passaram pela Copa já tiveram o machucado cicatrizado e mostraram nos últimos jogos o que mais sabem fazer: jogar futebol.


GE: Como começaram as caretas?

Começou da maneira mais natural. Sempre gostei mais de vídeo do que de foto. Vi que eu ficava estranho em foto e disfarçava a feiura com a careta. As pessoas tiravam fotos e no Chelsea começou aquela onda do “Geezer” (como os torcedores do Chelsea passaram a chamá-lo nos primeiros meses na Inglaterra). Foi a primeira frase que eu aprendi com um motorista nosso. Perguntei para ele como falava mano, “brother” (irmão), em inglês. E ele disse que era “Geezer”. Aí o pessoal começou a brincar com a palavra. Mas é muito mais para esconder as fotos e porque eu não gosto de ficar sério.

in Globo Esporte/Vítor Gava (vídeo)

Sem comentários:

Enviar um comentário