sexta-feira, 3 de junho de 2011

David Luiz: 'Acharam que eu não iria crescer'

Com apenas 18 anos, saiu de um Vitória pós-Série C para tentar a sorte em Portugal. Quatro anos antes, já tinha sido dispensado do São Paulo com o argumento de que não iria adquirir altura. Desconhecido, fez um contrato de experiência de apenas seis meses com o Benfica. Tendo que 'matar um leão por dia', agarrou a oportunidade com unhas e dentes e não largou mais. Hoje, David Luiz atua num dos maiores clubes do mundo, o Chelsea, da Inglaterra, e vai cada vez mais assegurando sua vaga na Seleção Brasileira. Motivado, agora sonha fazer o caminho inverso e conquistar os corações brasileiros, assim como fez com o dos europeus. Confira a entrevista exclusiva dada ao LANCE!:

BRUNO BRAZ: Somente agora, atuando pelo Chelsea, você está começando a ser mais conhecido pelos torcedores brasileiros em geral. A Copa América é uma grande oportunidade de mostrar quem é David Luiz para eles?

DAVID LUIZ: Já agora, nesses dois jogos, está sendo uma experiência nova para mim. Representei a Seleção em outras oportunidades, mas não no Brasil. Nesses dias de férias já senti a mudança que é estar jogando numa Seleção Brasileira e no Chelsea. O reconhecimento já é muito maior. Espero, sim, um dia poder ser tão reconhecido como sou na Europa, mas não só por ser um bom jogador ou algo assim, mas também como um grande homem, um grande exemplo. Isso que eu também almejo na minha carreira.

BB: Como vem sendo o entrosamento com o Thiago Silva? Muitos apontam como uma das duplas de zaga mais promissoras...

DL: Desde que cheguei, sempre me dei muito bem com o Thiago, até mesmo fora de campo. Isso me ajudou bastante nas primeiras partidas, para se conhecer e adaptar o mais rápido possível. O Brasil tem o privilégio de ter inúmeros jogadores que poderiam representar a Seleção, não são só 22, 28, como agora. No mundo todo se vê brasileiro fazendo sucesso. O Thiago é um jogador de muita qualidade e é fácil jogar com ele.

BB: Como foi sua dispensa do São Paulo, ainda na base?

DL: Disseram que foi pela altura, que eu não iria crescer. Foi o argumento usado para explicar a minha demissão. Eu fiquei muito chateado, era um menino, cheio de sonhos, não entendia muito bem porque disso tudo, pois era muito novo ainda. Como que eles poderiam ter essa noção, um dia, que eu não poderia mais crescer? Mas não fiquei com nenhum tipo de mágoa, foi uma vontade de Deus. Nao tenho sentimento ruim dentro do meu coração. Hoje eu tenho 1,89m mais o cabelo! Tudo tem o seu caminho, talvez se hoje eu estivesse no São Paulo não estaria onde estou hoje.

BB: Como foi sua trajetória até chegar ao Chelsea?

DL: Tudo tem uma etapa. Desde quando cheguei ao São Paulo, aos 9 anos. Depois fui para o Vitória, longe da família. e depois nunca mais voltei. Estava numa Terceira Divisão, aí passei para a segunda e pude jogar no melhor clube de Portugal (Benfica). Tudo isso é um crescimento. Não conseguimos chegar ao topo da escada sem ir de degrau em degrau. No meu caso, eu até pulei alguns. Não joguei a Primeira Divisão do Brasil, por exemplo. Os jogadores que hoje jogam na Primeira Divisão têm o sonho de atuar na Europa e eu já pude jogar muito novo. Tudo tem sua importância. Tem a importância do primeiro tapa na cara, quando saí do São Paulo, depois a dificuldade de jogar numa Terceira Divisão, depois o primeiro time europeu que apostou em mim e eu só tinha um contrato de seis meses e tinha que provar, noite e dia, que poderia ficar... Agora posso representar um dos maiores times do mundo, que todo mundo vê e assiste.

BB: O motivo do sucesso nesta trajetória foi você não ter perdido o foco?

DL: Saí muito cedo de casa, garoto imaturo, onde o caminho errado estava bem mais próximo, mas sempre escutei meus pais. Mesmo longe, sempre estiveram presentes e eu sempre os ouvi. Para dar certo tive que renunciar muitas coisas, perdi aquela fase da juventude, mas tudo por um propósito. Graças a Deus hoje tenho essa recompensa, sou um privilegiado.

BB: Alguns jogadores que saíram muito cedo para a Europa não tiveram sucesso e depois a carreira despencou. Teve medo de que isso fosse acontecer com você?

DL: Saí com 14 anos em busca de um sonho incerto, mas sempre tive apoio da família, muita fé e em Deus e sei que na vida colhemos o que plantamos. Sei que muitos também fazem o que eu fiz e não conseguiram, mas sempre fui ciente do que poderia acontecer e sempre me preparei dos dois lados. Sempre fiz por onde para acontecer. Então, acho que as pessoas no mundo, independente da profissão, não podem ter medo, não podem dar um passo na frente com medo, senão não conseguem caminhar. Essa é a lei da vida. Hoje, sem dúvida, vivo do jeito que sempre sonhei, tenho privilégio de fazer o que eu amo e poder ajudar as pessoas que eu amo através do que faço. Poder dar alegria para famílias que sequer eu conheço. Às vezes, poder mudar um fim de semana para eles por uma atitude minha dentro ou fora de campo. Hoje o jogador tem que lembrar disso: antigamente não tinham muitos meios de comunicação ,mas hoje somos exemplos para a criançada toda e temos que ter a mentalidade do que isso representa. Lembrar da importância dos pais para nossa vida. Os jovens, hoje, estão perdendo aquela coisa pela família. Eu posso chegar ao mais alto ponto no futebol, mas nada vai ser maior do que a minha família e o amor que eu tenho por ela.

BB: Você está vivendo um sonho?

DL: Sem dúvida. Meu sonho é realidade. É prazeroso. Sempre tive objetivos na minha vida, como jogar num grande clube, na Seleção, representar nossa pátria e, hoje, estar vivendo isso é só desfrutar da melhor maneira, com comprometimento, mas com alegria no meu coração, porque sei que um dia isso vai passar. Mas sei que isso é o que todo mundo quer viver, e se eu tenho esse privilégio, tenho que aproveitar da melhor maneira possível.

Fonte: O Povo

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