sábado, 10 de maio de 2014

Conheça o 'bonde do David Luiz' e a trajetória do zagueiro até a Copa


A partir desta quarta-feira (7), cada um dos 23 convocados vai ser personagem de uma série de reportagens especiais do Tino Marcos no JN. E o técnico da seleção foi o convidado para ver a primeira delas.
Abre-se a boca, contraem-se os músculos do rosto, especialidade, careta. Assumidamente um careta.
“David não bebe, não tem vícios ruins, não é uma pessoa briguenta”, diz Regina Marinho, mãe de David Luiz.
Porém: “Bem levadinho, bem brincalhão, farrista”, revela a mãe.
“Brincalhão, muito alegre, muito brincalhão”, dizem amigos.
Implicante com os amigos. O garoto cresceu e com ele, cabelo. Origem: “Africana”, diz David Luiz.

Cabelo que virou marca
A mãe, Regina, já foi a favor da tesoura, mas desistiu. “Agora quem não quer que corte, sou eu”, conta a mãe.
O cabelo ficou e virou marca. “Os cachinhos do David são conhecidos pelo mundo inteiro, então em muitos lugares têm peruca, essas coisas todas”, diz David Luiz.
Em casa, nem todos.
Tino Marcos: Se eu pedir um favor para o senhor, o senhor pode tirar o boné?
Ladislao, pai do David Luiz: Tiro (revelando o corte de cabelo raspado)
Tino Marcos: É o avesso do David?
Ladislao: É o avesso.
“Tem que aproveitar enquanto eu tenho porque senão eu vou ficar igual ao meu pai, que vai cair, eu sei que vai ficar”, diz o zagueiro brasileiro.
Que seja longa enquanto dure e com a benção da Dona Regina. Quem a vê séria, mexendo no armário de lembranças do filho e mostrando uma bandeira. “Essa é a bandeira master, essa é a bandeira do ‘bonde’”, revela dona Regina.
Bonde? “Bonde do David Luiz: o bonde da alegria”, explica uma amiga do jogador.
Bonde do David Luiz percorreu estádios na Copa das Confederações

O bonde do David Luiz percorreu todos os estádios por onde a seleção jogou na Copa das Confederações do ano passado.
“Ela organizou o bonde e ligava pra mim: ‘o filho eu só preciso de uns bilhetinhos’, aí eu: ‘quanto mãe?’, e ela: ‘uns 47’, aí eu falei: ‘mãe!’”, conta David.
O bonde virou projeto social em Juiz de Fora, no interior mineiro. Em bairros carentes ou na casa da Dona Regina, é comum uma camisa quatro da seleção passando para lá e para cá. É o número do bonde.

Já são 13 anos desde que o David saiu da casa dos pais e seguiu a estrada do futebol. Mas, de certa maneira, ele tá sempre por aqui. Pais, sobrinho, irmã, primos, amigos, eles vestem David. Eles são apaixonados.

“O David, na verdade, é meu orgulho”, diz Isabelle, irmã do zagueiro.

O amigo Tuquinha de sempre: “Ele já falou para mim que eu sou o irmão dele, entendeu? Isso ele já falou para mim”, conta o amigo.

Todo mundo é: "David Luiz", gritam os amigos.
Puxando o aquecimento, conduzindo a bola com velocidade. Nos tempos de campo esburacado, era o meia que fazia ligação com o ponta.

“Dá saudade do tempo que era meia atacante. Jogava para frente, sem muita responsabilidade”, conta David Luiz.

Pai do zagueiro lembra do dia que o filho foi dispensado no São Paulo FC

Eram os tempos de infância em Diadema, na Grande São Paulo. Era meia, virou volante e foi para a base do São Paulo Futebol Clube. Jogou lá dos 12 aos 14. Até que o telefone do seu Ladislao tocou.

“Tava trabalhando, ligaram pra mim, o seu filho tá sendo dispensado. Ele estava choroso, chorando muito, não queria sair de dentro do Morumbi. Ele não queria sair de jeito nenhum”, lembra o pai.

E o que dizer ao filho?

“Eu só falei uma frase pra ele. ‘Sua vida não termina aqui. Sua vida começa uma nova fase a partir daqui’”, lembra o pai Ladislau.
Naquele mesmo ano de 2001 seria aprovado no Vitória da Bahia. Lá, o volante virou zagueiro de sucesso e, aos 18, já era jogador do Benfica de Portugal. E rapidamente providenciou a aposentadoria, dos pais.

“Tirava 80 % e dava para os meus pais, dei a casa e falei: vocês podem parar de trabalhar, vocês trabalharam muito”, conta David Luiz.

Primeira convocação para a seleção brasileira

Faltava uma realização. E ela veio, em 2010.

“Quando aconteceu a primeira convocação, ele ligou para mim e falou: pai, chegamos”, conta o pai, emocionado.

Chegou e ficou. Titular e segundo capitão da seleção brasileira. Gol? Ainda não tem. Ou tem?

“Não existe outro igual àquele ‘gol’ que ele fez lá né, contra a Espanha. Aquela ali foi marcante”, diz o pai do zagueiro.

Eram 40 minutos do primeiro tempo.

“Tava tão concentrado que não tinha visto a dimensão que tinha sido aquele lance, tão diferente tinha sido na hora ali”, conta o zagueiro.

Lance decisivo na final da Copa das Confederações

Era a final da Copa das Confederações, contra a Espanha. O Brasil vencia por um a zero. Estar ali e não fazer o gol contra, e salvar a seleção, é um golaço!

Campeão da Liga dos Campeões da Europa com o Chelsea da Inglaterra, que o contratou em 2011. David Luiz, careta.

“Sempre falo que os dentes não foram feitos só pra morder e sim pra sorrir”, afirma o zagueiro.

E como se ganha?

“Na atitude, no querer, no demonstrar, na garra, na paixão. Todos nós podemos, basta a gente querer, querer de verdade. Tem até que respirar para falar porque... Eu só tenho mesmo q agradecer na minha vida”, diz o zagueiro David Luiz.

Felipão fica emocionado ao assistir a trajetória do zagueiro brasileiro

Patrícia Poeta: Felipão, você conhecia tanto detalhes assim, da vida do David Luiz
Luis Felipe Scolari: Não, não conhecia tantos detalhes assim, mas eu conhecia muitos aspectos da vida do David, de como ele trabalha na área social junto com os pais. E de quanto ele é abusado, ousado. O quanto ele é diferente, não quando está dentro de campo.
É impressão minha ou você está um pouco emocionado?
Luis Felipe Scolari: Não, eu fico emocionado. Eu gosto de ver.
Patrícia Poeta: É bonito, né? De ver.
Luis Felipe Scolari: Porque as pessoas às vezes vêem o final. O final, o David Luiz que chegou à seleção. Mas o David Luiz que fez peneira, que foi atrás de buscar uma oportunidade e que foi buscando essas oportunidades à medida em que o tempo foi passando, ninguém vê isso ou ninguém lembra. E toda a história de superação. E depois mostrar aqui, através de vocês, ao Brasil todo, a personalidade, o quanto está é a personalidade da nossa seleção, é importante para mim. 

in Jornal Nacional

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