segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Revelado: Por que Juan Mata e David Luiz caíram em desgraça com Mourinho

A dupla foi considerada dispensável nos planos do português, que pretendia negociar ambos para fazer caixa e contratar um meia defensivo, um zagueiro e um novo atacante.

"Nunca trabalhei tanto quanto agora. Nunca. Tive situações diferentes em outros clubes, mas aqui eu trabalho todos os dias." - José Mourinho, setembro de 2013.

Se havia uma pessoa que acreditava fielmente que o Chelsea tinha o melhor e mais forte elenco da Premier League depois do fechamento do mercado de meio de ano, esta pessoa era Roman Abramovich. Quando José Mourinho fala sobre trabalhar mais do que jamais trabalhou, é porque o grau de esforço é imenso.

Retornar ao Stamford Bridge sempre iria exigir uma aplicação especial dos talentos do treinador. Não porque o elenco é fraco, mas porque falta equilíbrio. Antes de aceitar o posto, Mourinho avaliou os jogadores que já estavam no Chelsea, os que estavam emprestados ou, como Andre Schurrle, que já haviam acertado suas transferências, como pôde. O problema é que eles haviam sido todos recrutados para um modelo de futebol diferente do imaginado pelo português.

Abramovich queria que o Chelsea jogasse como o Barcelona. Monitorando todas as decisões sobre contratações e até dirigindo muitas delas, o russo reuniu um grupo que tendia ao jovem e tecnicamente forte. Muitos eram relativamente 'leves' demais para as demandas físicas do futebol inglês; muitos tendiam a preferir tocar a bola lateralmente do que para frente.

Com técnicos sendo jogados para cima feito confete em Stamford Bridge, não é coincidência que o Chelsea tenha acabado em segundo, sexto e em terceiro lugar no sufoco nas últimas três campanhas da Premier League. Durante três anos os jogadores, que aprenderam que seus lugares no time são muito mais permanentes do que os cargos dos seus técnicos, não ameaçaram brigar pelo título de verdade nenhuma vez.

Ao aceitar a decisão de Abramovich de aderir ás regras da UEFA de Fair Play Financeiro, Mourinho desenhou um plano para reequilibrar o elenco e entregar um estilo de jogo que satisfizesse o dono do clube. O jogo do Chelsea seria baseado na posse de bola, fazendo marcação pressão. Técnico, rápido e eficiente.

O português identificou três áreas-chave para reforçar. Em vez de ficar variando com John Terry, Gary Cahill, David Luiz e Branislav Ivanovic, ele quis um zagueiro que fosse titular absoluto. Um jogador com ritmo forte, força, bom desarme e capacidade de iniciar os ataques. Um que não fosse esquecer suas funções defensivas, acabar com pelo menos um erro capital por jogo ou permitir que os adversários passassem correndo nas suas costas.

O meio também precisava de uma figura que pudesse equilibrar a defesa e o ataque. Mourinho queria um jogador capaz de guardar a linha de quatro atrás, recuperar a bola e ainda saber o momento certo de partir para o ataque. O outro problema principal do Chelsea é tão óbvio que nem um cego é capaz de ignorar. Fernando Torres precisava ser substituído por um atacante confiável, tanto para marcar gols quanto para servir seus companheiros.

Com o dinheiro limitado, e o Chelsea superlotado de meias de ataque, Mourinho propôs a pragmática estratégia de vender David Luiz e Juan Mata. O ridiculamente alto salário de Torres deveria ser passado para qualquer outro que merecesse mais - se conseguissem fazer dinheiro com ele, melhor ainda.

"Mata, Torres e Azpilicueta, de acordo com algumas fontes próximas, estão sendo tratados como 'leprosos' por Mourinho, que os estaria punindo por terem tido uma relação próxima com seu antecessor, Rafa Benítez."

Em melhores circunstâncias, Mourinho teria preferido ficar com David Luiz e Juan Mata. Os atributos do brasileiro são óbvios e, de muitas maneiras, se encaixam bem no sistema que o treinador quer implantar. Mesmo assim, a propensão a erros e as subidas desenfreadas ao ataque, abandonando completamente o plano tático, fazem dele não adequado para ocupar um lugar na zaga ou no meio-campo de Mou, então a ideia era negociar.

As razões por trás da queda de Mata foram deixadas claras na última semana. Mourinho prefere Oscar como sua principal mente criativa porque o brasileiro é mais completo. Mata tende a se concentrar no meio-campo, tem dificuldades para manter o ritmo durante 90 minutos e é defensivamente muito fraco.

"Juan precisa aprender a jogar como eu quero," explicou Mourinho. "Ele precisa ser mais consistente e participar mais quando o time perde a bola. Não é culpa dele, é só uma consequência da forma como ele vem atuando nos últimos anos. Desde que chegou ao Chelsea, o Chelsea teve um tipo de jogo muito defensivo. A equipe atuava com duas linhas de quatro e ficando sempre no contra-ataque. Juan tem muita qualidade e é muito inteligente na forma como ele usa a bola. Mas agora a situação é completamente diferente."

Que o debate sobre Mata tenha se tornado central nas discussões sobre o novo Chelsea de Mourinho se deve especialmente às últimas negociações do clube. O técnico não recebeu nenhuma das contratações que queria. Em vez disso, Abramovich negociou uma transação de £30 milhões por mais um meia ofensivo, Willian, assegurando a compra ao resolver também o problema muito bem pago que Samuel Eto'o havia se tornado no Anzhi Makhachkala, tirando-o das mãos do seu colega russo, Suleyman Kerimov.

Não apenas Mata ainda está em Stamford Bridge, mas ele agora tem ainda mais concorrência por uma vaga no time. Em vez de acrescentar um zagueiro confiável, um meia e um atacante ao grupo, Mourinho acabou emprestando Romelu Lukaku e Victor Moses para abrir espaço para os dois do Anzhi.

Mata, Torres e Cesar Azpílicueta iniciaram três jogos da Premier League e da Champions como titulares entre eles, o que levou a uma sugestão de que há uma regra 'anti-Espanha'. De acordo com alguns observadores próximos, o trio está sendo tratado como 'leprosos' por Mourinho, que supostamente os estaria punindo por terem tido uma relação muito próxima com Rafa Benítez. Mesmo que a teoria seja risível, não ajuda a melhorar a situação de um trabalho que já é bastante difícil.

O trabalho duro sobre o qual Mourinho se refere é o esforço no campo de treino necessário para educar um grupo jovem de jogadores que chegaram por quantias e salários altos e com reputação muito maior do que suas inteligências táticas. Erros totalmente desnecessários aconteceram por conta de uma incapacidade de seguir instruções. Muitos indivíduos estão lutando com atividades básicas, perdendo a posse de bola facilmente ao forçar uma jogada longa na hora errada.

Nada disso é irrecuperável, mas, como Mourinho já lembrou seus seguidores quando trabalhando para outra chefia, "Eu sou um técnico, não o Harry Potter". Até mesmo os melhores precisam de apoio daqueles que o cercam para serem bem sucedidos.

in Goal.com

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