O depoimento de David Luiz foi impressionante. Mostrou como o novo jogador do PSG ganhou seu espaço na Seleção. E ele vai muito além de um atleta normal. Muito pelo contrário. Ganhou mais espaço que o capitão do time, Thiago Silva. Tem uma personalidade mais explosiva, expansiva. Cativa a todos...
Após a classificação do Brasil, ele explicou o drama que viveu. Se fosse outro treinador e não Felipão, provavelmente não teria sequer entrado em campo. Ou cobrado um dos pênaltis que garantiu a classificação para as quartas de final.
Se esse técnico tivesse feito isso, talvez a essa hora o Brasil estivesse desclassificado. A importância que David Luiz ganhou na Copa do Mundo é incrível.
"Na quinta-feira, eu fui virar o corpo e senti um puxão forte na lombar. Uma dor horrível. Parei na hora de treinar. Fui virar o corpo. Me conheço. Sabia que a coisa não era simples. Mas eu não iria deixar de jogar contra o Chile de jeito nenhum. Sabia o quanto era importante estar neste primeiro jogo eliminatório. Precisava e iria fazer de tudo para ajudar o meu grupo. Sabia que seria muito difícil. Mas tive fé. Esta contusão era mais um obstáculo que surgiu para que eu superasse.
Comecei a fazer o tratamento intensivo na contratura. Não conseguia nem mexer o corpo direito. A dor era imensa. Não consegui ter uma noite tranquila de sono na véspera do jogo. Quis beber um copo de água durante a madrugada, mas não consegui pegar. Esse foi um dos momentos mais preocupantes para mim.
Enquanto fazia o tratamento senti o quanto os meus companheiros queriam que eu jogasse. Todos, sem exceção, foram me abraçar, dizer que estavam comigo, que confiam em Deus e torciam pela minha recuperação. Isso só foi me fortalecendo. A união que conseguimos criar é algo que vai além do que vocês jornalistas possam imaginar. Estamos juntos mesmo de verdade por um objetivo que é de milhões de pessoas.
Recebi a visita dos meus pais. E eles me deram a força a mais que eu precisava. Eu recebi deles o maior presente: princípios, determinação, força de vontade de ir atrás dos meus objetivos. Eu superaria a dor e jogaria."
"Não seria a primeira vez que faria o que fiz. Sabia que a minha vontade superaria a dor. Joguei a final da Champions League contra o Bayern de Munique em Munique. Entrei em campo com o meu músculo da coxa com um rasgo de sete centímetros. Uma grande distensão. Atuei como se nada tivesse acontecendo. Foram 120 minutos de partida e também bati pênalti e fiz o meu gol. Fiz isso pelo Chelsea, faria com ainda mais convicção pelo minha Seleção, pelo Brasil.
O momento decisivo da minha escalação foi na manhã de hoje (ontem). O Felipão me chamou para conversar. Perguntou como eu estava e se tinha condições de jogar. Fui bem direto. Falei que estava pronto. Nada iria me tirar dessa partida."
"Lógico que o Felipão sabia que o David estava com muitas dores. Mas ele foi um treinador de muita coragem. Deu todo o apoio para o seu jogador. Sabia o quanto nós precisávamos dele em campo. E o liberou para a partida. Foi o grande acerto do Felipão para esse jogo com o Chile", me diz Thiago Silva.
"Se eu tive medo que desse tudo errado? E eu não conseguisse jogar? Quem tem medo não vive de verdade. Eu aprendi isso desde cedo na minha vida. Confiança e fé são mais importantes do que tudo na vida de uma pessoa.
A partida foi dificílima porque o Chile tem hoje uma das grandes seleções do mundo. Muito bem montada e com jogadores vividos, experientes. Sabem o que querem. Não foi por acaso que eliminou a Espanha da Copa do Mundo. Jogou de igual para igual com a Holanda. Conhecia bem o time deles e sabia que iria ser uma partida muito dura. Por isso fiz tanta questão de estar em campo.
Todos nós nos desdobramos para ganhar. O Neymar tomou uma pancada fortíssima no início do jogo. Sabíamos que ele também estava com dores. E não podia jogar tudo o que sabe. Mas mostrou raça, coragem. Ficou em campo até o final. Sabia que se saísse daria mais confiança aos chilenos. Ainda foi lá e cobrou e marcou o seu pênalti. Não se omitiu. Apesar de ser um jogador de apenas 22 anos assume toda a responsabilidade que tem. Precisa ser valorizado como um dos melhores do mundo jogando uma Copa no seu país.
Os 120 minutos foram de uma batalha intensa. Passamos por momentos difíceis, mas nos superamos. Não iríamos deixar a vaga escapar, de jeito nenhum. Até que chegaram os pênaltis. Eu avisei que cobraria o meu. E tinha certeza que o Julio decidiria para nós.
Um repórter veio me falar que assim que acabaram as cobranças, o Julio disse que me ama. Isso é muito forte, porque eu também o amo. Temos uma ligação especial de irmãos. Eu sei o quanto ele foi crucificado injustamente pela eliminação da Copa na África. O time todo falhou contra a Holanda e tudo caiu nas costas dele. Mas foi digno. Poderia ter repassado a culpa. Mas a assumiu sozinho. É um jogador de muito caráter. Como não vou admirar, amar um cara desses?
No final da partida abracei um a um dos meus companheiros. O Felipão. E agradeci a cada um deles pela força, pela confiança que tiveram em mim. Todos sabiam do drama que vivi. E eu também dei o meu apoio a quem pude.
Fiz questão de abraçar e agradecer a vitória junto com o Neymar porque sei que ele também superou a dor, se expôs para que o Brasil se classificasse. Abracei a todos e dei muita força ao Willian. Ele é meu companheiro desde os oito anos. Sei como ele ficou arrasado por ter perdido o pênalti. Ele é exímio cobrador. Mas falei que da próxima vez ele vai marcar. É um dos grandes jogadores da Seleção. Precisamos dele bem em Fortaleza.
Não sei se enfrentaremos Colômbia ou Uruguai (quando deu entrevista os colombianos ainda não haviam vencido a partida por 2 a 0). Mas sei que de novo será uma batalha. Outro clássico sul-americano. Sem favorito. Quem conseguir chegar entre os oito melhores times do mundo é porque tem muitos méritos. Se não houver a doação, a entrega de hoje contra o Chile, o Brasil não passa. Mas vai haver.
Se notei a minha importância no grupo? Se virei ídolo no Brasil? Estou realmente muito feliz por poder contribuir com esta seleção, com o Felipão. Se os torcedores estão reconhecendo, só posso ficar agradecido de coração. Saí com 14 anos da minha casa para jogar futebol. Deixei minha família atrás de grandes conquistas e elas estão chegando."
(Nessa hora um repórter de rádio o avisa que 28 crianças foram batizadas na pequena cidade de Montes Claros em Minas Gerais com o nome de David Luiz, desde que a Copa começou.
O jogador para um instante de falar e fica com os olhos marejados.)
"Montes Claros, é? Essa é a maior homenagem que um jogador pode receber. Mostra o quanto estou certo em fazer o que puder para estar em campo. São essas coisas que mexem comigo, me motivam. Preciso dar o máximo pelos brasileiros, pelo meu país. Vocês (jornalistas) podem estar certos que estarei em campo em Fortaleza. Volto agora a fazer tratamento intensivo. Graças a Deus tenho mais tempo do que a partida contra o Chile. E lógico que vou estar em campo.
Quanto a esses meninos que ganharam o meu nome, eu só posso desejar uma coisa de coração. Que eles tenham a sorte de ter pais que os orientem e os preparem para a vida como os meus. Sou o que sou por causa da educação e os princípios que recebi da minha família. E é o que repasso para os meus companheiros de Seleção..."
in Esportes r7